sábado, 2 de novembro de 2013

Capítulo 20: Bodha – A cidade da luz

Postado por Estante de Livros às sábado, novembro 02, 2013
No topo de uma subida, tivemos o primeiro vislumbre
alastrando-se de uma bela cidade. A Cidade da Luz se esticava da
ponta de um vale para o outro, cortada por um rio de lava que fluía
a partir de uma montanha negra correndo abaixo no centro da
cidade, e desaparecendo entre as colinas na outra extremidade. Todos os edifícios brilhavam intensamente apesar de estar rodeado pelo fogo das árvores, e no coração da comunidade um brilhante e deslumbrante templo brilhava como um diamante. A vista era de tirar o fôlego.
Ren, Kishan e eu deixamos escapar um suspiro, em parte pelo esplendor diante de nós e em parte em alívio por finalmente termos chegado ao nosso destino. Certamente não estávamos em casa, mas estávamos próximos.
Em algum lugar lá embaixo está a Corda de Fogo, pensei.
Com uma determinação renovada, desmontei do líder Qilin, afastei o cabelo de seus olhos, e o agradeci por ter nos levado em segurança. Com um relincho, os três animais trotaram através das árvores e logo desapareceram.
Dormimos durante toda a tarde e o início da noite. Ao cair da noite as árvores de fogo dormiam escuras como de costume, mas a cidade estava cheia de luz e atividade. Cuidadosamente fizemos o nosso caminho para o vale em direção dos arredores da cidade. Todo mundo parecia estar indo ao templo para algum tipo de celebração de feriado ou um casamento.
Espiando através das árvores escuras, aprendemos que os cidadãos eram chamados de Bodha. Eles brilhavam como os Rakshasa, mas a pele dos Bodha brilhava com uma luz dourada, e as tatuagens que eles usavam pareciam apenas para decorar. Eles não pareciam agressivos, apesar de terem o físico musculoso de guerreiros.
Ao estudarmos a cidade dourada, Ren sussurrou as palavras de um poema.
Eldorado
Por Edgar Allan Poe
Gentil, faceiro, um cavaleiro, sob sol e sombreado, seguiu avante, cantarolante, em busca do Eldorado. Mas o andarilho ficou tão velho, no âmago assombrado, por não achar nenhum lugar assim como Eldorado. E, enfim diante de sombra errante, parou, quando esgotado e arguiu-lhe "onde, sombra, se esconde a terra de Eldorado?" "Sobre as montanhas da lua e entranhas do Vale Mal-Assombrado, vá com coragem," disse a miragem, "se procuras o Eldorado".
“Você acha que daqui que veio a lenda de Eldorado?” Perguntei a Ren.
Ele respondeu, “Eu não sei, mas certamente parece uma cidade de ouro.”
Kishan se virou para mim e pediu a Echarpe Divina. Amarrando-a ao redor de seu corpo, ele sussurrou algumas palavras e emergiu da Echarpe parecendo um cidadão de Bodha. Estendi os dedos para tocar seu braço. Sua pele tinha texturização e irradiava quase como as escamadas dos Qilin. Uma canga estava amarrada em sua cintura e, embora ele usasse cintilantes pulseiras nos braços com jóias vermelhas, o resto da parte superior de seu copo estava nu. Sua pele dourada fora tatuada com tatuagens carmesim e padrões pretos, seu vasto cabelo preto havia se tornado branco perolado. Até mesmo as sobrancelhas e cílios tinham um brilho perolado, e as escamas em torno dos seus olhos estavam pronunciadas, tornando seus olhos dourados alinhados como pedras preciosas.
Ren pegou a Echarpe e mudou também, apenas seus olhos eram de uma mistura de azul, verde e roxo. Ele me entregou a Echarpe, mas eu apenas a apanhei e olhei para os dois deuses de ouro diante de mim, até que Ren me deu uma cotovelada e Kishan riu.
Após me transformar em uma mulher Bodha e remover a Echarpe, Ren e Kishan me circularam admirando minha fantasia.
“Não é ruim.” Disse Kishan depois de me avaliar.
“Bom.” Eu murmurei. Estudei meu braço que fora coberto com borboletas da cor esmeralda e retorcida videiras pretas, eu tentei sem sucesso diminuir a luz que emanava de minha pele. Pegando meu cabelo puxei algumas mechas sobre o ombro. Estavam longos, marfim e grosso, muito diferente do meu cabelo natural, que era grosso, marrom, e tinha uma ondulação natural. (Não falei que era marrom?) Eu usava jóias de ouro incrustadas que se pareciam com esmeraldas, mas na verdade eram fabricações da Echarpe, e um vestido como se fosse feito com fios de luz das estrelas.
“Está bonita.” Kishan respondeu.
Ren se abaixou para arrumar nossas malas e respondeu sem nem sequer olhar para mim.
“Suas pálpebras estão cobertas com pequenas esmeraldas que irradiam para fora e para baixo em suas maçãs do rosto. Pedras de topázio pontilham da sua testa e sobrancelhas para o couro cabeludo. A pele das suas bochechas e testa estão tingidas de uma tonalidade verde esmeralda que descem até o seu pescoço e ombros, mas depois se desvanece a ouro.”
Ele se levantou e caminhou até a mim. “Seus lábios, seus olhos,” ele permaneceu olhando por alguns momentos “são de ouro também. A única coisa faltando... é isto.” Ele pegou a flor de fogo branca que ainda brilhava de meus dedos e colocou-a em meu cabelo, torcendo seu cabo entre as mechas e colocando em minha orelha. Meu pulso saltou ao seu toque. “Ela não é apenas bonita, Kishan. Ela é perfeita.”
Antes que eu pudesse reagir, Ren pegou a mochila e se dirigiu para a cidade. Kishan rosnou infeliz e Ren recuou, resmungando algo que eu não entendi, e então me ofereceu sua mão. Sem uma palavra, nos juntamos ao desfile de pessoas caminhando em direção ao templo em forma de pirâmide na Cidade de Luz.
“Eles parecem muito excitados sobre algo. O que quer que esteja acontecendo não acontece há um longo tempo. Essa deve ser uma ocasião especial.” Ren sussurrou antes de usar seu ouvido de tigre para espionar um par de senhores nas proximidades.
Um grupo de pessoas havia formado um círculo e batiam palmas cantando junto com os músicos que tocavam bateria e instrumentos semelhantes a flautas ou tubos. A música aumentou e alguns Bodha começaram a dançar. A energia da multidão era palpável. Flores foram atiradas na piscina de lava onde flutuavam sem queimar. O cheiro que exalava era inebriante e espesso.
Nós nos aproximamos do enorme Templo, e eu não podia tirar meus olhos dele. Ele não somente refletia a luz de todos
que o rodeavam, mas também brilhava com seu fogo interno. A superfície era multifacetada como um brilhante diamante cortado, e sua luz dançava em torno de nós como se estivéssemos debaixo de uma bola de discoteca girando. Eu não podia ver o topo de onde estava, mas estimava que o edifício tivesse cerca de vinte andares de altura. Ele se parecia com as fotos que eu tinha visto de Templos Maias.
O templo era um cristal gigante esculpido em forma de um tetraedro e tinha uma escada íngreme com um terraço que conduzia ao topo. Guardas armados com lanças estavam em cada degrau da base do templo para cima. Embora eles possuíssem impressionantes aparências, eles sorriam alegremente junto com a multidão e não pareciam esperar qualquer problema.
De repente dois homens jovens bonitos apareceram de uma entrada na metade do caminho da escada. Juntos, a dupla desceu vários degraus até que eles estivessem pouco acima da multidão. Seus corpos eram salpicados em ouro e usavam cangas semelhantes à de Ren e Kishan, mas muito mais detalhadas. Faixas de ouro circulavam seus braços, antebraços e pernas, e penas de pássaros de fogo foram tecidas através do cabelo branco que batia nas costas.
“Os Lordes!” A multidão aplaudiu. Um dos homens levantou as mãos e os gritos e vaias se acalmaram.
“Meu povo, foi há muito, muito tempo desde que fomos adicionados ao seu clã. Alguns até se perguntaram se o prazo para recrutar novos havia passado para sempre. Agora sabemos que não. Essa energia líquida que corre por baixo de nossa cidade e nos sustenta não perdeu seu fogo afinal. Ela ainda fala para o mundo a cima e traz vida nova.”
“E nova esperança para os Lordes.” A multidão Bodha gritou em resposta.
O homem que falava sorriu e bateu no ombro de seu companheiro. “Sim. Nova esperança, irmão.” “A esperança!” Ele respondeu e levantou a taça de ouro.
Com o brinde ainda pairando no ar festivo, os drinques foram passados para a multidão.
Kishan tomou um copo e provou. "É bom", ele assegurou-nos em voz baixa. “Como uma mistura de Fruta de Fogo e maçãs.”
"Você sente isso, irmão? Ela está chegando," um dos Lordes disse para o par enquanto ele descia para a multidão.
Guardas ladeavam os homens enquanto caminhavam entre os Bodha ao longo da praia de areia preta. Aproximando-se do lago de lava ardente, eles entraram na borda e olharam a superfície atentamente.
Eu estremeci ver o quão perto os seus dedos dos pés estiveram de queimar e tive um flashback de meu próprio corpo e queimando e a agonia que senti. Eu agarrei o braço de Ren. Ele olhou para mim com preocupação, mas eu respirei fundo e sussurrei: "Vamos. Vamos para mais perto."
Encontramos uma visão desobstruída. Não demorou muito antes que eu notasse algumas bolhas subindo para a superfície e, em seguida, uma ondulação. A ondulação cresceu, e a multidão excitada apontou quando uma jovem que saiu da lava. Engoli em seco. Ela estava tremendo e claramente com medo. Quando ela caminhou em direção à costa, ela limpou a lava de seus braços, e eu vi que sua pele era vermelho brilhante.
Os Lordes entraram no rio de lava para cumprimentá-la, sem serem afetados pelo calor e as chamas. Um envolveu um belo manto em torno da menina e o outro colocou um colar de flores de fogo em seu cabelo. Gentilmente, eles a guiaram para a areia preta.
Um dos irmãos falou: "Bem-vinda à Cidade da Luz pequena. Aqui nós vamos cuidar de você. Todas as suas necessidades serão atendidas. Venha com a gente."
Enquanto os dois homens a levaram ao templo os Bodha aplaudiram e jogaram flores a seus pés. Quando chegaram ao edifício, ela deu um pequeno sorriso antes de desaparecer dentro
com os irmãos. Os guardas voltaram para suas posições originais na escada.
Assim que a cerimônia terminou, a festa começou a sério. A música começou de novo, comida foi trazida para fora, e a multidão se divertia perto do templo. Nós nos misturamos da melhor maneira que pudemos e descobrimos que a comida era deliciosa, mas picante. Eu felizmente aprendi que a bebida que passou entre nós diminuía o fogo na minha língua.
Ren, Kishan, e eu escutamos um pouco mais e descobrimos que a festa continuaria por toda a noite. Os Bodha esperavam que os Lordes reaparecessem com a feliz notícia de que esta menina era quem eles estavam esperando. Eu não pude evitar simpatizar com ela e encontrar uma familiaridade em toda a situação.
À nossa esquerda, um grupo de pessoas começou a cantar: "Diga-nos o conto!"
Eu queria ouvir e descobrir o que estava acontecendo, então eu fiquei mais perto. Meus silenciosos protetores Kishan e Ren vigiaram os pontos ao meu lado e observaram a multidão.
Depois de cortar os gritos repetidos, um homem idoso, eventualmente, ergueu as mãos e falou. "Acima de nós estão às montanhas de fumaça, portas do mundo acima do nosso mundo aqui em baixo."
O povo murmurou e acenou com a cabeça.
"Os antigos sabiam que o nosso povo sofrido não poderia cuidar da chama sagrada por conta própria. Isto foi quando os Lordes da Chama, Shala e Wyea, vieram para nos governar."
Uma jovem acrescentou: "Mas eles deixaram alguém para trás."
"Isso é correto, Dormida. A menina bonita, Lawala, não veio com eles. Lawala era amada por ambos os irmãos, e ela teve de escolher entre eles. Antes de cada Lorde partir através de uma montanha de fumaça diferente, ela foi convidada para escolher e seguir com o irmão que ela queria. Eles esperaram a sua vinda, mas
ela nunca veio. Atormentado, Shala e Wyea deixaram os seus postos e procuram-na no mundo de cima, mas a adorável Lawala não foi encontrada.”
"Logo se tornou evidente que os irmãos estavam negligenciando suas funções de modo que os Antigos prometeram que se os Lordes voltassem ao nosso mundo para cuidar das chamas eternas no centro da criação, eles mesmos procurariam Lawala e a mandariam para os dois irmãos através das montanhas de fumaça.”
Fascinada eu fiz uma pergunta. "Por que os irmãos não a reconhecem quando a vêem?"
O homem sorriu para mim. "Os antigos só sabem olhar para uma menina jovem e virtuosa. Ela pode ter renascido em outra forma, mas os irmãos insistem que irão conhecê-la, independentemente de que forma ela tomar."
"O que acontece com a menina, se ela não é o que eles procuram?" Eu perguntei.
"Ela se torna um de nós e contribui para os nossos números." O velho homem olhou para a noite escura. "Hoje as montanhas de fumaça permanecem, os irmãos estão contentes, mas se essa menina não for a sua senhora, a sua raiva irá abalar o céu e lago de fogo irá explodir no mundo de cima."
Eu agarrei a mão de Ren e fiz sinal para Kishan que devíamos ir. Nós fizemos o nosso caminho para a floresta do fogo e montamos nosso acampamento.
Após uma breve discussão sobre o que tinha visto, eu propus, "Eu acho que ele estava falando sobre vulcões. Quando os irmãos estão chateados, um vulcão entra em erupção na superfície... e eu também acho as meninas chegaram aqui por serem sacrifícios a um deus vulcão."
"Por que você acha isso?" Ren perguntou.
"Porque o homem disse que procuravam por jovens, mulheres virtuosas e em mitos, livros e filmes, as virgens são sacrificadas nos vulcões. Além disso, cada Lorde viajou até aqui através de um
vulcão na montanha. Faz sentido. De forma que em vez de queimar-se, as meninas emergem com segurança na piscina de lava perto do templo."
Kishan respondeu: "É uma explicação plausível. Diga-me o que a profecia de Durga diz sobre os Lordes da Chama.”
Folheei um caderno até que eu encontrei o que eu estava procurando. “A tradução do Sr. Kadam diz: “‘Os Senhores do Fogo pretendem conspirar para mantê-lo longe do que você precisa’. E não se esqueça que a fênix disse que nós precisamos derrotá-los para chegar a Corda de Fogo.”
"Então isso não soa como se eles fossem cooperar". Ren murmurou.
"A boa notícia é que os guardas não parecem estar muito bem treinados." Kishan comentou.
"O quê? Por quê? Ainda não provei a mim mesma o suficiente na batalha para vocês? Não vamos esquecer que salvei os dois quando os Rakshasa os levaram prisioneiros."
"Ela tem um ponto, Ren."
Ren parecia travar uma batalha interna antes de concordar. "Tudo bem, mas vai ficar perto de nós."
Eu o saudei. "Sim, senhor, general, senhor. Cadete Kelsey Hayes, se alistando para os deveres que lhe forem atribuídos." Eu provoquei.
Ren sorriu e jogou um travesseiro feito recentemente em minha cabeça.
"Somente feche os olhos *, detetive Hayes."
Eu soquei o travesseiro algumas vezes e me deitei. "Onde
diabos você aprendeu a palavra fechar de olhos?"* a expressão original é get some shut-eyes, seria algo como cale os olhos- assim como shut up é usado para cale a boca.
Ren riu. "Boa noite, Kells".
Rindo, rolei para encontrar um Kishan quieto me observando. Ele estava pensando. Ele tinha a expressão perdida de eu-tento-
qualquer-garota-a-fugir-comigo em seu rosto bonito. Eu sorri, mas ele apenas olhou para longe e dobrou o lenço Divino. Eu o observei enquanto ele se movia silenciosamente na tenda, preparando-se para manter a primeira vigia. Ele se posicionou na porta da tenda.
Colocando meu punho sob meu rosto, eu estudei seus fortes ombros e costas largas e quase podia sentir a decepção de Kishan comigo. Eu estava distante com ele desde a minha experiência com a Fênix, e eu sabia que ele podia sentir isso. Nós teríamos que falar, e em breve, mas não era o momento, eu não queria que qualquer coisa para nos distraísse de nosso objetivo.

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