sábado, 2 de novembro de 2013

Capítulo 26: Aliados

Postado por Estante de Livros às sábado, novembro 02, 2013
Ren e Anamika se ausentaram por quase três semanas.
Ficamos ocupados enquanto eles estavam fora, mas não ocupados o
suficiente para eu esquecer Ren durante os dezoito dias. Eu não
poderia ajudar, mas sentia que a cada dia que nós estivéssemos
separados, eu estaria perdendo-o mais.
Kishan treinou os homens a lutar como um exército unificado
e ajudou os feridos a recuperar a sua força. Ren e Kishan haviam
construído uma nova barraca próxima das fogueiras para cozinha e
encheram-na com todos os tipos de alimentos, frutas, carnes,
legumes (tanto frescos quanto secos) e barris com sacos de cereais
integrais, feijão e arroz.
Agora que os homens comiam com vontade e estavam mais
fortes, eles ansiavam por algo para fazer além de realizar os
exercícios de batalha. O treinamento de Kishan como um
conselheiro militar tornou-se aparente rapidamente, e era fascinante vê-lo mudar do homem moderno para o príncipe indiano que ele uma vez fora. Como ele mudou para o papel, eu podia ver um lado diferente dele, e eu senti um sentimento de orgulho e espanto do homem que era meu noivo.
Ele trabalhou ao lado dos homens todos os dias, tinha pouco tempo para cuidar de suas próprias necessidades. Muitas vezes eu levei-lhe refeições e encontrei-o a fazer tudo, desde cortar madeira e a enchimento e barris de água a maneira correta de jogar uma lança. Toda vez que eu me aproximava ele me dava um sorriso suave e beijava meu rosto.
À noite, ele vinha à tenda e descansava a cabeça cansada em meu colo. Ele me dizia sobre o seu dia enquanto eu acariciava seu cabelo e, em seguida, com os horários do acampamento estabelecidos, ele me beijava ternamente antes de ir para a própria tenda.
Os homens estavam mais do que dispostos a seguir sua direção e enviavam vários grupos para caçar e complementar nosso suplemento de comida e grupos de escoteiros para avaliar o paradeiro de Lokesh e seu exército. Kishan levou a mim e algumas das mulheres a praticar exercícios também. Ele disse que, se Lokesh seria derrotado por uma mulher, fazia sentido ensinar algumas outras ao menos os rudimentares básicos de batalha.
Eu estava ao lado de velhas avós e esposas jovens quando Kishan correu para fazermos exercícios para fortalecer os músculos e treinar no uso de facas e espadas pequenas. Todas as mulheres comentaram que eu era uma garota de sorte por ter alguém como Kishan como meu noivo, e as poucas solteiras o assistiam, cobiçando, e flertavam descaradamente com ele, enquanto ele pacientemente guiava-lhes na utilização de armas de mão.
Eu estava feliz de estar com Kishan e trabalhar com ele. A exaustão no final de cada dia me fazia buscar minha tenda ao anoitecer. Embora eu mal conseguisse manter os olhos abertos, eu
ainda esquadrinhava o horizonte continuamente, esperando ver o retorno de Ren e Anamika.
Quando o grupo de guerreiros de Anamika finalmente entrou em campo numa noite, todos aplaudiram e deram boas-vindas aos heróis. O som ruidoso de suas armaduras e seu tamanho eram intimidantes. Houve um apelo por água e para alguém levar os cavalos. Ouvi Kishan gritar instruções. O som de vozes flutuava no ar. Examinei o grupo, buscando apenas um homem, aquele com os olhos azuis penetrantes.
Sem pensar, deixei meu arco de lado movi-me entre os cavalos. Kishan gritou meu nome, mas eu continuei, desviando dos corpos armados e finalmente cheguei até Ren.
Ele se virou e me viu. Ainda segurava as rédeas do cavalo com uma mão. Emoções corriam, selvagens, e tudo o que eu consegui dizer com uma voz apertada foi: “Senti sua falta.”
Ele deu um passo em minha direção e pegou-me em seus braços. Embora usasse a armadura cobrindo-lhe o peito e ombros, me segurou firmemente contra ele e pressionou seu rosto. “Também senti sua falta, iadala.”
O guerreiro chinês atrás dele bateu em seu ombro e fez alguns comentários em voz alta em Mandarim ou Cantonês. Ren soltou-me e assim que me virei encontrei várias pessoas olhando para nós. Kishan tinha me perseguido pela multidão, com a espada em mãos, até que me viu com Ren. Embora o controle sobre a espada tivesse relaxado, seus músculos permaneceram tensos e seus olhos eram como rochas. Friamente, ele olhou para Ren.
Anamika veio por trás de Kishan, seu olhar penetrante estudou cada um de nós por vez, seu rosto tinha uma expressão ilegível. A multidão acalmou-se e se tomou em um desconfortável silêncio
enquanto assistiam a nós quatro. Anamika chamou por um comando e em seguida se virou, caminhando para sua tenda.
Os soldados que retornaram recomeçaram a se mover, mas olhando para mim sobre os ombros, intrigados.
Depois de entregar seu cavalo a um soldado que esperava, Ren me deu um breve sorriso e apertou meu braço antes de se virar. Ele rapidamente instruiu os homens a criarem acomodações e fornecerem refeições para os convidados. Muitos dos soldados de Anamika, embora tratando Ren respeitosamente, o fez pausar os comandos explicando que Kishan já tinha começado a organizar os recém-chegados. Ren acompanhou o guerreiro chinês para cozinhar na fogueira no centro do acampamento.
Procurei por Kishan, mas ele havia desaparecido. Imaginando que ele deveria estar tão ocupado quanto Ren, entrei na tenda que dividia com Anamika que estava retirando a armadura. Ela se manteve virada de costas para mim.
“Estou contente de ver que você voltou com segurança”, disse.
Ela não respondeu.
“Está com fome?”
A deusa-guerreira balançou a cabeça e tirou as botas, substituindo-as por chinelos mais macios e confortáveis.
“Vejo que seus pés se curaram. Então, o suco funcionou?”
Ela finalmente se virou para mim, e sua expressão suavizou um pouco. “Sim, os meus pés estão curados. Obrigada.”
“Estou feliz que esteja de volta”, sorri.
“Sim, Posso ver isso.” Ela soltou um suspiro e se levantou. “Como são meus homens?”
“Eles estão bons. Quase todos estão prontos para a batalha. Kishan tem treinando-os e as mulheres também.”
Anamika levantou uma sobrancelha. “Ele tem treinado as mulheres?”
Dei de ombros. “Ele acredita que uma mulher deve aprender como saber se defender.”
Ela pensou sobre isso por um momento antes de assentir e caminhar pela tenda. Quando ela abriu-a, virou a cabeça. “Os nossos convidados estão começando a achar que estamos sendo ajudados por uma deusa, e alguns deles acreditam que a deusa está personificada em mim.”
Assenti com cautela.
“Eles também acreditam que Dhiren é meu consorte”, afirmou. “Pode ser sábio permitir-lhes continuar nesta crença, pelo menos até que a guerra acabe.”
“Eu... Eu entendo,” sussurrei enquanto ela saía. Fiquei ali pensando se for um consorte queria dizer o que eu pensava que significava ou se naquele tempo houvesse um sentido diferente da palavra.
Consorte.
O termo passou pela minha língua algumas vezes. Era uma palavra feia. Na verdade, eu não acho que já tivera ouvido uma palavra que eu pudesse detestar mais.
“Ren é seu consorte,” sussurrei.
Andei em direção ao centro do acampamento. Havia um grande barulho vindo da cozinha. Kishan estava nos arredores com os braços cruzados sobre o peito e uma carranca no rosto. Os guerreiros tinham se refrescado e foram emergindo da barraca de alimentos enquanto Ren falava com eles com entusiasmo. Os novos guerreiros se agarravam em cada palavra e os homens do campo, embora acenando a cabeça a Kishan quando passavam, reuniram-se em torno da “deusa” e seu novo “companheiro”.
Notei que Anamika estava ao lado de Ren e muitas vezes adiaram perguntas quando eram feitas.
“O que está acontecendo?” perguntei a Kishan.
Seus olhos brilhavam enquanto olhava Ren e Anamika. “Meu irmão está roubando o show, como de costume. Eu treinei guerreiros por duas semanas que agora se voltam para ele, Anamika
cai por ele e até minha própria noiva não pode manter suas mãos longe dele.”
“Você está com ciúmes.”
Kishan finalmente virou-se para mim. “Claro que estou com ciúmes.” (n/t: único momento dos quatro livros que shippei o Kishan e a Kells ushaus)
Olhei em seus olhos dourados e me desculpei. “Sinto muito, Kishan. É comigo que você deve estar bravo. Eu perdi Ren, mas não foi adequado ter ido atrás dele assim.”
Kishan suspirou e pegou minhas mãos, beijando uma por uma. “Estou exagerando. Perdoe-me.”
“Se você me perdoar.”
“Sempre.”
Ele colocou o braço em volta de meus ombros e ficamos assistindo o espetáculo por um momento antes de eu perguntar, “Kishan, o que exatamente significa ser um consorte? É como um companheiro íntimo, esse tipo de coisa?”
“Você quer dizer, no nosso tempo ou agora?”
“Agora.”
“Significa um companheiro de vida. Geralmente um consorte é o cônjuge de um monarca reinante. Por que você quer saber?”
Um nó se formou em minha garganta e meus olhos arderam.
“Isso significa casamento?” gaguejei.
“Pode significar noivado também.” Kishan colocou uma mão nos meus ombros e virou-me de frente para ele. “O que há de errado, Kelsey?”
“Anamika disse que Ren agirá como seu consorte até a guerra terminar.”
“Entendo.”
Kishan levantou a cabeça e silenciosamente estudou Anamika e Ren enquanto se misturaram com a multidão.
Inutilmente tentando afastar as emoções horríveis que eu estava sentindo, disse, “Não quero colocar qualquer um de nós em
uma situação perigosa porque não consigo seguir as regras de etiqueta próprias para este tempo. Você é meu noivo e Ren é... dela. Eu deveria ter ficado ao seu lado.”
Kishan assentiu distraidamente.
Com o meu braço ligado no de Kishan, me perguntei se essa coisa de consorte era realmente temporária ou se Ren tinha sentimentos por Anamika. Em sua carta, ele mencionou uma despedida. Será que ele pretende ficar aqui e realmente tornar-se o consorte de Anamika? Com certeza Anamika não parecia se opor a idéia. Eu ainda amo Ren. A Fênix me fez reconhecer isso. Devo dizer a ele ou deixá-lo sozinho? E se ele me rejeitar e escolher Anamika? Reconhecendo que eu o amava não significava necessariamente que eu o teria de volta. Ela é linda. Por que Ren me escolheria quando poderia ter uma deusa? Ele poderia ser um rei, um deus em pé ao seu lado.
Segurei um soluço silencioso e reconheci pela primeira vez que o destino de Ren poderia não corresponder com o meu. Eu não poderia mantê-lo na minha vida em tudo, mesmo como amigo.
Eu vou perdê-lo... Para sempre. E Kishan? Ele havia prometido sempre me perdoar e que ele iria aprender a viver com isso se eu escolhesse outro. Se eu dissesse que ainda sou apaixonada por Ren, o que ele faria? Perdoar tanto é mesmo possível? Será que ele me odiaria para sempre? Voltaria para a selva e viveria uma vida de solidão e isolamento?
Naquele momento, eu soube que não tinha importância. Não fazia diferença se Ren decidisse ficar com Anamika ou se Kishan nunca me perdoasse. Ambos precisavam saber de tudo. Era necessário deixar os dois cientes de como eu me sentia e eu teria que conversar com cada um em particular e compartilhar o que estava em meu coração. Se um deles ou ambos optarem por deixar-me, eu teria apenas de lidar com isso. Eu não podia continuar a fugir da mágoa. Eu devia-lhes muito. Phet estava certo quando disse que os dois eram boas escolhas. Ambos eram nobres, corajosos, bonitos e amáveis, e que mereciam mais do que eu lhes tinha dado.
Kishan ficou por mim enquanto eu observava o processo e me disse do que todos estavam falando. Apertei seu braço, grato pelo bom homem que ele era.
Depois de algumas reuniões políticas, Anamika pediu a todos que se reunissem para um banquete. As mesas foram trazidas e com um aceno de mão, Anamika usou o poder da Echarpe – que estava amarrada em seu pulso – para criar panos para colocar sobre elas. Os fios da Echarpe teceram com a magia, e os homens guerreiros de Anamika engasgaram maravilhados.
Eu fiz um pequeno som de protesto e dei um passo à frente, mas Kishan segurou-me.
“O que está feito está feito, Kelsey. Ren, obviamente, tem instruindo-a na utilização dos presentes de Durga.”
Anamika encheu a mesa com pratos de comida, e os homens sentados aplaudiram quando ela se mudou de lugar para lugar, enchendo copos e pratos com guloseimas especiais da pátria de cada homem. Ela, então, tomou seu lugar na ponta da mesa com Ren sentado ao seu lado. Ele apertou a mão dela e no mesmo momento eu senti como se algo negro houvesse apertado meu coração.
Um lugar foi feito para mim e Kishan, e assim que ele puxou minha cadeira, sentei-me firmemente. Sorri quando alguém me ofereceu comida e aceitei com gratidão, mas tudo que eu provei transformou-se em cinzas na minha boca, e nenhuma quantidade de bebida pôde molhar a garganta seca.
Assisti Ren e Anamika juntos e imaginei-o como seu rei. Uma picada de ciúmes amarga rasgou meu coração, e não apenas por causa de Ren. Eu sabia que a Echarpe Divina e o Fruto Dourado eram para Durga e que Anamika era ou seria Durga, mas seria difícil deixar os presentes. Dar esse poder e acabar com nada era difícil. (na boa ? eu não concordo, a Kells quase morreu por eles para eles serem da Mika? ¬¬)
Kishan estava com inveja de Ren obter toda a glória e eu estava sentindo o mesmo sobre Anamika. Sentei-me no jantar
dizendo a mim mesma repetidamente que a Echarpe e o Fruto Dourado pertenciam a ela, não a mim. Toquei o colar de pérolas na minha garganta e me perguntei se havia alguma maneira de eu pelo menos poder manter esse presente para mim.
Eu lutei muito por eles, raciocinei. Eu quase tinha sido morta muitas vezes, e tudo o que Anamika tinha a fazer era se tornar uma bela deusa e levar o homem que eu amo como seu consorte. Eu pensei sobre a mordida do Kappa, os macacos, o tubarão gigante, o Kraken, e os pássaros Estífalos. E então havia Lokesh. Não era justo.
Eu sabia que era errado, mas não poderia deixar de me sentir enganada na outra ponta da mesa. Era como se eu tivesse sido demitida. Usada. Minha perspectiva sobre a deusa mudou. Enquanto eu refletia sobre isso em minha mente, lembrei-me de todas as nossas reuniões nos templos. Quando ela prometeu proteger Ren, não era por mim. Meu coração ressentido gritou. Foi para ela! Ela o fez esquecer-se de mim. De mim! Se eu soubesse que seu plano era levá-lo para si, teria ficado no Oregon e a deixaria ir atrás de seus próprios presentes.
“Aprenda a lição da flor de Lótus”, ela disse. Bem, se eu fosse uma flor de Lótus, então ela tinha essencialmente me arrancado da água e passado para a terra sob seus pés.
Meus olhos foram capturados por um flash de ouro da túnica de Kishan. O Broche de Durga. Suspirei e lembrei-me de que ela não tinha tudo. Eu ainda possuía meu arco de ouro e as flechas, o Amuleto de Fogo, o Colar de Pérolas e Fanindra.
Repeti enquanto empurrava comida em volta do meu prato, “É por isso que estamos aqui. É por isso que estamos aqui.”
A deusa gloriosa e seu poder tomaram conta de mim do outro lado da mesa como ondas pesadas, deixando-me tão pálida e úmida quanto algas podres.
Isso é o que eu sou, pensei sombriamente. Estou tão podre por fora quanto por dentro. Sou uma garota sedenta de poder do futuro que anseia pelo amor de dois irmãos e que quer manter toda a magia também. Não
havia nada que eu queria mais naquele momento do que enganar Anamika de seu destino e pegá-lo para mim.
Ela tocou Ren e sussurrou algo em seu ouvido. Ren curvou a cabeça enquanto eles conversavam calmamente, intimamente, juntos, e eu percebi que havia outra coisa que eu queria mais do que o Colar de Pérolas, mais do que o Fruto Dourado e a Echarpe Divina. Mais do que o destino de Durga, Fanindra, e mais do que o Amuleto de Fogo.
Eu queria Ren.
A força dessa emoção veio como um furacão. Eu estava com ciúmes antes, quando Ren tinha dançado com Nilima e todas as meninas na festa da praia, mas mesmo assim uma parte de mim sabia que não era meu Ren que fez essas coisas, e sim um Ren que havia se esquecido de mim. Agora tinha de confrontar a visão de um homem que fora meu Ren estar perto de outra mulher. Eu não poderia suportar isso. Senti-me como se estivesse sendo rasgada em dois. Meu mundo estava se decifrando mais rápido do que o tecer da Echarpe.
Afundei minha cabeça em minhas mãos e olhei para os restos de comida no meu prato. O cheiro de canela e açafrão flutuava ao meu nariz.
Kishan perguntou se eu estava me sentindo bem e quando balancei a cabeça, levantou-se e levou-me de volta a minha tenda. Kishan ficou por um tempo, mas eu disse a ele que precisava ficar sozinha para pensar. Esfreguei uma pérola do Colar entre meus dedos e percebi que tinha feito isso desde que o jantar começara. Só porque eu pude enchi um copo com água, usando o Colar de Pérolas. Então, em clima de vingança, encharquei todas as roupas de Anamika e preenchi suas botas com água. Em seguida, criei um nevoeiro e fiz chover em sua cama (Kelsey V1D4 L0K4). Depois de seu lado da tenda estar pingando, livrei-me de toda a água. Fiquei surpresa e um pouco desapontada ao ver que sua cama e botas estavam completamente secas.
Quando Anamika finalmente retornou a tenda várias horas mais tarde e afundou em uma cadeira em frente a mim, eu estava brincando com meu copo de água, drenando e recarregando-o mais e mais usando o colar de pérolas.
Anamika ficou me olhando por um tempo e perguntou o que eu estava fazendo.
“Você não gostaria de saber?”
Tentei reunir a frase um tom sarcástico, mas ela acabou por sair triste e patética.
“O que há de errado com você?”, perguntou. “Você está doente?”
“Talvez. E se eu estiver?”
“Bah, você não está doente, exceto, talvez, na cabeça.”
Levantei-me e apontei o dedo para o rosto dela, com raiva. “Se alguém aqui tem danos cerebrais é você. Por que você estava mostrando seus poderes para aqueles homens? Você precisa de mais alguns seguidores? É isso? O que há de errado? Ren não é mais o suficiente para você?”
Ela cruzou os braços e olhou para mim. “Eu pensei que era para eu representar uma deusa. Isso é difícil de fazer sem mostrar-lhes poderes.” Ela inclinou a cabeça. “Isso não é realmente sobre o Fruto ou a Echarpe, é?”
“Parcialmente,” resmunguei, mal-humorada.
“Foi você quem disse para fazer isso, Kelsey. Eu não pedi para assumir este papel.”
Apontei melancolicamente, “E ainda assim você preencheu-o muito bem, não é?”
Ela suspirou. “É sobre Dhiren?”
Eu congelei e balbuciei: “Por que você acha isso?”
Ela considerou minha pergunta. “É natural se preocupar com seu irmão. Você deseja que ele seja feliz. Se o meu irmão trouxesse uma mulher para casa, seria difícil vê-la tomar o meu lugar ao seu lado.”
“Ren não é meu irmão.”
“Você é a noiva de Kishan, e Ren, obviamente, tem você em grande estima. Você está perto. Ele é como um irmão para você e você quer vê-lo em seu bem-estar.”
“Eu...”
Eu não poderia nem mesmo responder ao que ela estava dizendo.
Anamika colocou as mãos sobre a minha. “Eu não sei se Dhiren desejará permanecer meu consorte depois de matar o demônio, mas vou te revelar que eu espero que ele permaneça.” Sua expressão iluminou-se. “Eu o acho atencioso e gentil, com a mente de um grande guerreiro e político.”
Seus olhos brilharam. “Eu também acho que ele é muito atraente. Seria uma honra eu poder te chamar de irmã. Irmã mais nova, talvez, mas uma irmã em espírito, no entanto. Vou tentar fazê-lo feliz, Kelsey. Dou-te meu juramento.” Ela apertou minhas mãos e se levantou. “Há muitas coisas que precisam ser feiras amanhã. Sugiro que vá dormir um pouco.”
Sentei-me em silêncio enquanto ela se preparava para dormir e ainda estava sentada quando ela olhou para mim, encolheu os ombros, apagou a lâmpada e deitou em seu colchão seco. Eu não sei por quanto tempo fiquei sentada lá, mas era como se o tempo houvesse parado e eu estivesse entorpecida, em um inferno escuro.
Finalmente subi na cama, coloquei minha mão no rosto e não percebi que estava chorando até sentir uma gota de lágrima entre meus dedos. Adormeci repetindo as mesmas palavras em minha mente: “Ela vai fazê-lo feliz.”
Anamika havia saído quando eu acordei no dia seguinte. Estiquei o braço por trás do meu travesseiro para minha mochila com as armas escondidas e o poema de Ren. Eu queria ler de novo com outros olhos para ver se ele realmente estava dizendo adeus a mim. Mas a mochila não estava ali. Levantei-me e rapidamente procurei-a pela tenda.
Depois de me vestir, fui para a fogueira para ver se conseguia encontrar Ren, Kishan ou até mesmo Anamika, mas o cozinheiro disse que Ren e Anamika tinham comido antes do amanhecer e haviam se dirigido para a floresta. Kishan estava servindo as necessidades dos soldados visitantes.
Finalmente encontrei Kishan no meio de uma conferência com os guerreiros. Quando me viu na tenda, ele me convidou e me apresentou em vários idiomas. Os homens balançaram a cabeça respeitosamente.
Kishan explicou, “Estamos discutindo estratégias de batalha, e eu sou seu tradutor. Cada líder estava se preparando para discutir o que viram na guerra até agora e vai falar sobre bens que vão trazer a aliança. Estamos a manter um registro de tudo.”
Assenti. “OK, mas nossa mochila sumiu. Sabe onde pode estar?”
“Sim, Ren e Anamika estão praticando com as armas.”
“Fanindra também?”
“Fanindra também. Precisamos continuar agora, Kells. Será que você poderia ficar e tomar notas?”
Meu intestino torceu-se com o pensamento de todas as minhas armas sendo entregues a Ren sem ao menos me consultar e meus olhos arderam.
Respondi sombriamente, “Por que não? Aparentemente não sou necessária em outro lugar.”
Kishan grunhiu alheio a minha agitação interna e reconheceu o primeiro líder, o general Xi-Wong.
O guerreiro chinês começou a falar. Mesmo sem sua armadura de batalha, ele era impressionante. Kishan traduziu suas palavras em duas outras línguas enquanto outros dois homens ouviam e também traduziam para seus líderes. Ele me deu um comprimido, um pote de alguma tinta com cheiro forte e uma madeira afiada para que eu pudesse acompanhar as estatísticas. De alguma forma, ele conseguiu traduzir para eles e depois me dizer os destaques
enquanto esperava os outros homens concluírem a interpretação. Primeiramente travei uma luta com a caneta antiquada, mas finalmente descobri como funcionava e anotei no papel.
O general Xi-Wong não parecia tão cansado da guerra como os outros. Sua roupa estava bem cuidada e ele tinha um bonito lenço de seda amarelo em volta do pescoço. Isso me fez pensar na Senhora Bicho de Seda.
Notei que o exército do general Xi-Wong usava armas de ferro, e sua filosofia de batalha se chamava Cem Escolas de Pensamento. De todos os líderes do exército, o seu grupo estava contribuindo com a maioria dos homens e armas, incluindo carruagens, infantaria, lanceiros, arqueiros e eixos de espadas – lanças longas com uma lâmina em uma das extremidades –, mas ele também tinha perdido a maioria de seus homens para o demônio, mais de cem mil.
O general Xi-Wong disse que a primeira aparição do demônio foi quando ele começou a recrutar na China. Gangues de criminosos inteiras desapareceram e, em seguida, cidades começaram a sumir. Várias cidades pareciam ser engolidas pela terra, e até mesmo as mulheres e crianças haviam sido levadas. Poucos sobreviventes relataram que um feiticeiro tinha vindo e escravizado todos os povos. Mais tarde, os homens falaram de um monstro, metade homem e metade touro, que havia aterrorizado a zona rural.
Derrubei um pouco de tinta no canto da página e limpei-a enquanto Kishan e general Xi-Wong acabavam e introduziam Jangbu, um tibetano, ou alguém da área que eu considerava Tibete.
Jangbu preferia ser chamado de Tashi, e seu exército era completamente feito de voluntários recrutados de diversas tribos que vivem na região. Eles eram especializados em arco-e-flechas e guerrilhas. As botas de Jangbu, pele, colete e chapéu eram cobertos por um pelo castanho desgrenhado. Eu me perguntei se ele estava usando um ancestral do urso pardo que Kishan e eu havíamos enfrentado no Monte Everest.
Zeyar e Rithisak eram de onde seriam todos os países modernos da Tailândia, Myanmar/Birmânia/Burma, e Camboka se todos fossem combinados. Eles viajaram até aqui da capital de Seg-Thaton, um porto no Mar de Andaman. Notei buracos em suas botas e que os guerreiros eram magros. Se os líderes dos exércitos estavam morrendo de fome, então eu imaginava seus homens muito piores. Fiz uma nota ao lado para Kishan saber que eles precisavam de mais alimentos.
De acordo com Zeyar e Rithisak, sua força era sua maior defesa. Eles construíram fortalezas e atacaram apenas quando reconheceram uma boa oportunidade de avançar com o mínimo de perda. Curiosamente, eles alegaram serem habilidosos no uso do fogo como arma, tinham grande fé em que Anamika poderia ser uma deusa que eles pensavam, e eles também acreditavam que o demônio estava ressuscitando os mortos para lutar novamente. Pareciam muito assustados.
Kishan ouviu o último grupo que falou e anunciou, “Este é o General Amphimachus, que era um dos Espartanos e agora serve ao seu rei Alexandre.”
Minha mão gelou. “Como em Alexandre, o Grande?”, sussurrei.
Kishan traduziu minha pergunta para o grego antes que eu pudesse detê-lo. O general olhou para mim de uma forma muito desconfortável antes de Kishan acrescentar, “Ele é um líder sábio e grande.”
Eu grunhi em direção ao homem, que estava preguiçosamente para baixo, e começou a arranhar com meu instrumento de escrita. O general apresentou seus homens: Leonato, Demetrius, Stasandor e Eumenes.
“Nós não ouvimos falar das terras que vierem. Isto é, exceto a Índia, é claro”, disse ele com um sorriso de político.
“Meu rei terá... o prazer de aprender mais sobre suas cidades.”
Através de minha respiração pesada, murmurei “Aposto que ele teria.”
O general continuou, “Talvez enquanto esta batalha durar, podemos falar do estabelecimento do comércio?”
Os homens do Tibete e Mianmar pareciam interessados nesta oferta, mas não o general Xi-Wong.
Mantive meus olhos baixos rabiscando furiosamente. Eu tive que dizer a Kishan o que eu sabia. Vários fatos que eu havia memorizado na escola e faculdade veio à mente, e eu fiquei alarmada que o Império Macedônio pudesse tornar-se tão interessado na Ásia. Até onde eu sabia Alexandre o Grande nunca conquistara nada além do Himalaia. Poderíamos estar a mudar o curso da história por estar ali, e eu havia visto de várias maneiras em Star Trek que viajar no tempo poderia ser uma enganação acreditar que é uma coisa boa.
Tomei várias notas lealmente e fiquei chocada com os números e recursos que os líderes de batalha haviam prestado. O que me preocupava mais em trabalhar com eles era o interesse que tinham por Anamika. General Amphimachus parecia acreditar que uma deusa possuía poder necessário para sentar-se no trono ao lado de Alexandre. Grunhi e li minhas notas.
Amphimachus falou de seus pontos altos. Ele tinha uma carruagem persa mortal, catapultas e panóplias e ele disse que seus homens poderiam lutar em falanges fortemente armados com lanças e sarrisas. Continuando a se gabar, ele contou como perdeu o olho na Batalha do Portão persa. Como recompensa pela sua bravura, foi lhe concedido uma propriedade e um porto gerado por Alexandre. Eu não podia deixar de ficar fascinada. Ele sorriu e ergueu o tapa-olho para mostrar o buraco onde seu olho costumava ficar. Estremeci e desloquei-me para mais perto de Kishan enquanto Amphimachus parecia sentir prazer com meu desconforto.
Por fim, foi a vez de Kishan falar. Ele compartilhou sua filosofia de batalha, e algumas eu reconheci do treinamento que o
Sr. Kadam nos tinha dado, e alguns eram novos para mim. Os números de Anamika me surpreenderam. Ele falou de 40 mil cavaleiros, cem mil homens em pé, mas de mil carruagens e dois mil elefantes de batalha. Pelo que eu tinha visto, Anamika não tinha nem de longe aquele número de homens. Seu exército tinha sido quase aniquilado. Eu me perguntei se era normal a prática de guerra exagerar em números.
Fiz alguns cálculos rápidos. De acordo com o que os líderes tinham dito, eles tinham 150.000 arqueiros, 250 mil cavaleiros, quase 150 mil soldados de infantaria, mil carruagens, 50 catapultas e dois mil elefantes. Nós éramos apenas meio-milhão de soldados.
Planos foram feitos para que cada líder retornasse ao seu acampamento em uma semana e marcharem seu exército para a base do Monte Kailash, que era onde tinham reconhecido a residência de Lokesh. Enquanto isso, todos desfrutariam da hospitalidade da deusa e testemunhariam em primeira mão as habilidades dos soldados de Anamika.
Como os líderes de muitas nações ficaram Kishan agradeceu a todos por suas contribuições e disse, “Cada um de vocês tem experimentado grandes perdas, mas eu sinto que juntos vamos conseguir a vitória e livrar nossas terras desse demônio.”
Ele bateu no ombro do general Xi-Wong. “Meus amigos, vamos ser tão rápidos quanto o vento, silenciosos como uma floresta, ferozes como um incêndio, e tão imóveis quanto à própria montanha.”
General Amphimachus foi o último a sair. Ele olhou e soslaio para mim quando Kishan estava distraído. Um de seus homens colocou uma capa preta feita de penas de corvo em volta dos ombros do general, antes que ele saísse com um floreio.
Enquanto eles faziam seu caminho para as tendas, elogiei Kishan. “Você foi incrível. Acho que todos eles ficaram impressionados.”
Kishan sorriu. “Eu usei aquele discurso de um dos meus velhos professores de artes marciais. Tecnicamente, o Daimyo no Japão que surgiu com o conceito de Furinkazan, ou vento, floresta fogo e montanha, não vai estar vivo por mais um século.”
Torci as mãos nervosamente. “Bem, talvez você esteja destinado a ser a antiga fonte que os inspirou.”
Ele gentilmente separou minhas mãos e prendeu-as nas suas. “O que há de errado, Kelsey?”
Suspirando suavemente, eu disse, “Eu sei que nós estamos destinados a fazer isso para derrotar Mahishasur ou seja lá como Lokesh esteja chamando a si mesmo nesses dias. Eu só quero ter o cuidado de não acabarmos reescrevendo toda a história. Quer dizer, e se Alexandre, o Grande agora decida sair para conquistar a China? E se isso estragar tanto o nosso futuro que nem mesmo poderemos ir para casa?”
Kishan apertou os lábios contra meus dedos e me estudou com seus olhos dourados. “Seria tão ruim se nós não pudéssemos?” ele perguntou.
“O que quer dizer?”
“Quero dizer que, mesmo sem Nilima e alguns de seus outros amigos, você poderia,“ ele fez uma pausa, “aprender a ser feliz vivendo aqui, comigo, no passado?”
“Eu... eu acho que poderia aprender a viver aqui sem o conforto do mundo moderno, desde que você e Ren estejam aqui.”
Ele soltou minhas mãos, segurou meus ombros e sorriu. “Há uma parte de mim que se sente em casa aqui Kells. Não me interprete mal. Se você estivesse no futuro, eu moveria montanhas para chegar lá, mas enquanto você estiver ao meu lado, eu me sinto... bem. Não há mais nada que eu precise no universo senão você.”
Kishan me beijou suavemente antes de me levar para o almoço. Suspirei, sabendo que havia algo mais no universo que eu
precisava. Não eram realmente apropriadas dadas as circunstâncias, mas a outra coisa que eu precisava era... Ren.
Depois do almoço, fui à busca dele. Kishan dissera-me que ele estava mostrando a Anamika como usar todas as nossas armas. Toquei o colar de pérolas e engoli a culpa que eu sentia, mantendo-a para mim mesma.
Demorou um pouco para encontrá-lo sendo que o dispositivo de rastreamento já não funcionava, mas eu finalmente encontrei um soldado que me falou de uma clareira onde Ren e Anamika poderiam estar praticando. Assim que acabava meu caminho através das árvores, ouvi sons de murmúrios silenciosos.
“Eu não sei como eu teria feito tudo isso sem você. Certamente os deuses o enviaram minha vida.”
“Algo do tipo.”
“Então, minha esperança,” a voz feminina respondeu baixinho, “é nunca dar-lhe motivos para sair.”
Eu contornei um arbusto espinhoso e parei para não fazer alarde. Ren e Anamika estavam entrelaçados. Ela estava como a deusa Durga, em um vestido azul Royal e com todos os oito braços. Cada conjunto deles estava envolvido em torno de Ren. As armas de ouro estavam aos seus pés com exceção de Fanindra, que permanecia enrolada sobre o solo. Ela estava acordada e vendo como eles se abraçavam.
Por um breve momento, eu fiquei ali, paralisada, mas depois o choque me perfurou. Lágrimas embaçaram minha visão. O líquido salgado tremeu, ameaçando descer sobre meu rosto. Ren, ainda segurando Durga, abriu os olhos azuis e me viu. Engoli em seco baixinho quando eu reconheci pela primeira vez uma espécie de distância em seu olhar. Eu não conseguia olhar para Durga, para quem ela era quando se virou.
Sequei com raiva as lágrimas que corriam pelo meu rosto e olhei para o chão. Fanindra virou a cabeça para mim e experimentou o ar com a língua.
“Fanindra?” sussurrei e estendi a mão para ela.
A serpente dourada me considerou por alguns segundos e depois desenrolou seu corpo e começou a se mover. Equivocadamente, eu pensei que ela estava vindo em minha direção, mas em vez disso, ela fez seu caminho para a deusa que inclinou-se e levantou a serpente no braço. Assim que Fanindra enrolou seu corpo em torno do membro da deusa, algo dentro de mim estalou. Senti-me totalmente traída. Nem mesmo Fanindra queria algo comigo.
Corri minha mão sobre os olhos e puxei o colar de pérolas preciosas da minha garganta e atirei-o aos pés da deusa. Eu podia sentir o olhar de Ren, mas recusei-me a olhar para ele.
Quando Durga pegou o colar, disse, “Você se esqueceu de algo.”
Então virei meus calcanhares e corri de volta para o acampamento.

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